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Cemitério São Paulo

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O Cemitério São Paulo, também denominado Necrópole São Paulo,[1] é um dos principais e mais antigos cemitérios do município de São Paulo, capital do Estado de São Paulo. Sua fundação ocorreu em 14 de janeiro de 1926.[2]

Localizado na Rua Cardeal Arcoverde,[3] entre os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, o Cemitério São Paulo foi projetado devido à superlotação dos aristocráticos cemitérios da Consolação e do Araçá, tornando-se um novo local para abrigar os jazigos da elite paulistana.[4] Possui 104 mil metros quadrados de área[5] e registra mais de 140 mil sepultamentos desde sua fundação.[6]

Abriga um grande número de mausoléus e monumentos funerários projetados por escultores de renome, como Victor Brecheret, Galileo Emendabili e Luigi Brizzolara, destacando-se algumas obras de referência na arte tumular do país.[3][5][7]

É mantido pela empresa Cortel São Paulo, que administra e faz a manutenção de outros quatro cemitérios da cidade: o Cemitério Dom Bosco, Vila Nova Cachoeirinha, Santo Amaro e Araçá.[8]

Entrada principal na Rua Cardeal Arcoverde.

Superlotação dos cemitérios paulistanos

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Após a criação do Cemitério da Consolação em 1858, encerrou-se em São Paulo a prática de sepultar as pessoas nas criptas das igrejas, criticada por razões sanitárias desde 1820. A secularização do sepultamento também representou o fim do hábito de marcar a posição social dos falecidos por meio de sua localização no interior das igrejas, mais ou menos próxima do altar. O então denominado Cemitério Municipal passaria a atender a todos os estratos sociais, de escravos a fazendeiros. Surge nesse contexto o hábito recorrente entre a elite paulistana de homenagear os amigos e familiares falecidos com obras tumulares monumentais, à altura de sua importância social, como forma de perpetuar após a morte a distinta posição social adquirida em vida.[9]

Projeto da fachada principal, de autoria do escritório Dacio & Winter em 1921.
Capela do Cemitério São Paulo.

Entre o fim do século XIX e o começo do século XX, a prosperidade advinda do plantio do café e da incipiente industrialização ocasionou profundas mudanças no perfil socioeconômico da cidade. A criação de novos cemitérios nesse período – como os do Araçá (1887), da Quarta Parada (1893) e do Chora Menino (1897) – permitiu a “estratificação social” da atividade funerária.[10][11] Cercados por incipientes bairros nobres, os cemitérios da Consolação e do Araçá passaram por um processo de elitização, consolidado nas duas primeiras décadas do século XX. Converteram-se em “museus de arte” a céu aberto, passando a abrigar um grande número de jazigos luxuosos e monumentos funerários encomendados por barões do café, industriais, intelectuais, médicos, juristas e pessoas públicas a escultores de renome.[3][9]

Com a superlotação do Cemitério da Consolação e a ocupação da área verde contígua ao Cemitério do Araçá, surgiu a necessidade de um novo local para sepultar a elite econômica e social da cidade. O Cemitério São Paulo surgiria, portanto, como um "prolongamento" dessas duas necrópoles.[4]

Projeto e construção

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Os planos para construí-lo datam de 1920, quando a prefeitura autorizou a aquisição do terreno de propriedade dos padres passionistas, no bairro de Pinheiros.[5]

O projeto da fachada principal, capela e muros é de autoria dos engenheiros Dacio Aguiar de Moraes e Guilherme Winter.[12]

A construção do cemitério ficou a cargo do mestre-de-obras Caetano Antônio Bastianetto[5] e de operários espanhóis, italianos e portugueses, que se converteram nos primeiros moradores do nascente bairro de Vila Madalena.[13] O cemitério foi inaugurado em 14 de janeiro de 1926, o último ano de gestão do prefeito Firmiano de Morais Pinto.

Nas décadas seguintes, aos jazigos das famílias tradicionais da cidade, somaram-se túmulos, mausoléus e monumentos encomendados por famílias de imigrantes bem-sucedidos, nomeadamente das comunidades italiana e sírio-libanesa, com o intuito de firmar uma posição social recém-adquirida, além de artistas, militares, atletas, pequenos e médios empresários que haviam prosperado após o estabelecimento da sociedade do trabalho livre.[4][7][9]

Mausoléu da família Varam Keutenedjian, de autoria de Galileo Emendabili.

Muitos dos escultores comissionados para executar os jazigos eram imigrantes europeus, sobretudo italianos, ou artistas brasileiros de formação europeia, bastante valorizados por seu conhecimento de técnicas e tendências artísticas então pouco divulgadas no país. Obras encomendadas a Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Luigi Brizzolara, Galileo Emendabili e Nicola Rollo, entre outros, transformariam o Cemitério São Paulo em uma importante referência para a arte tumular brasileira.

Uma comissão estabelecida durante a segunda administração do prefeito Jânio Quadros (1986-1988) identificou 180 peças de importância artística no local. Projetos para explorar o potencial turístico e didático deste e de outros cemitérios da cidade têm sido elaborados desde a década de 1980, mas com poucos resultados práticos.[9]

Personalidades sepultadas

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Desde sua fundação, o Cemitério São Paulo contabiliza mais de 140 mil sepultamentos.[6][5]

O cemitério abriga o Mausoléu dos Esportistas, onde estão enterrados Arthur Friedenreich, primeira grande estrela do futebol brasileiro[14] e o goleiro Tuffy Neugen, entre outros.

Também contêm os túmulos de combatentes mortos na Revolução Constitucionalista de 1932 e dos estudantes Dráusio Marcondes de Sousa e Orlando de Oliveira Alvarenga, símbolos do movimento.

Dentre as personalidades enterradas no local também encontram-se:

Alfredo Oliani: Último adeus (túmulo da família Cantarella).
Galileo Emendabili: Túmulo da família Forte ("túmulo do pão").

Entre as últimas décadas do século XIX e meados do século XX, as encomendas geradas no âmbito da arte cemiterial constituíram-se em um dos maiores mercados consumidores de esculturas no país. No Cemitério São Paulo, há 180 obras consideradas de valor artístico, executadas em sua maioria por artistas italianos e brasileiros formados na Europa.[9] Posterior em muitas décadas ao Cemitério da Consolação, onde se concentra uma numerosa estatuária de inspiração acadêmica e de iconografia majoritariamente cristã, no Cemitério São Paulo predominam os estilos belle époque, art nouveau e modernista,[4] e variantes de caráter eclético. Muitas obras tumulares chamam atenção pelas características ousadas para a circunstância e a época, tomando o nu, a sensualidade e os símbolos pagãos como temas.[9] De Alfredo Oliani, destaca-se o conjunto escultórico Último adeus, considerada uma das obras mais instigantes da arte cemiterial na cidade de São Paulo. A obra foi encomendada por Maria Cantarella, por ocasião da morte do marido, Antônio. Representa um homem no vigor da idade inclinando-se sobre a esposa morta, em um apaixonado beijo de despedida. Oliani buscou atender ao pedido da viúva, de uma escultura que celebrasse abertamente o seu amor pelo marido - reconhecendo-o como vivo em sua memória e a ela mesma morta, sem a sua companhia.[7][17]

Victor Brecheret: Túmulo da família Scuracchio.

Outra obra emblemática do cemitério é o Túmulo da família Forte de Galileo Emendabili, apelidado de Túmulo do pão. É um conjunto em bronze, representando uma mesa com um pão à qual se sentam o viúvo e o filho, tendo ao lado um banco vazio.[3] Também de Emendabili são a porta da capela da família Antonio Cândido de Camargo e a Capela São Francisco de Assis, encomendada pelas famílias Ferrabino, Carraro e Salvi, entre outras obras.[18]

Victor Brecheret, sepultado no mesmo cemitério, é autor dos dois anjos de bronze em posição de reza, tendo ao centro uma cruz, no túmulo da família Scurracchio.[3] Há ainda os túmulos dos combatentes da Revolução de 1932, executados por Eugenio Prati, e outras obras de Nicola Rollo, Lorenzo Petrucci, Luigi Brizzolara, Antelo Del Debbio, Giulio Starace, Armando Zago, Ottone Zorlini, etc.[4]

Referências

  1. «DECRETO N° 30.443, DE 20/09/89» (RTF). Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Consultado em 15 de novembro de 2009 
  2. «Notas». Hemeroteca Digital Brasileira. Correio Paulistano: 3. 14 de janeiro de 1926. Consultado em 4 de novembro de 2023 
  3. a b c d e Bravo! Guia de Cultura, 2005, pp. 16-17.
  4. a b c d e «Cemitério São Paulo». Arq!Bacana. Consultado em 15 de novembro de 2009 
  5. a b c d e «Conhecendo o cemitério». Guia da Vila. Consultado em 15 de novembro de 2009 [ligação inativa] 
  6. a b «Cemitério São Paulo». Veja São Paulo. Consultado em 15 de novembro de 2009 
  7. a b c Glugosky, Miguel. «O que a morte não leva». Jornal da USP. Consultado em 15 de novembro de 2009 
  8. «Cortel São Paulo | Home page». Cortel São Paulo. Consultado em 11 de novembro de 2023 
  9. a b c d e f Osman, Samira A. & Ribeiro, Olívia C.F. «Arte, história, turismo e lazer nos cemitérios da cidade de São Paulo» (PDF). Universidade São Judas Tadeu. Consultado em 22 de novembro de 2009 
  10. «Arte Tumular». Serviço Funerário - Prefeitura de São Paulo. Consultado em 22 de novembro de 2009 
  11. Camargo, 2008, pp. 74-75.
  12. «Directoria Geral». Hemeroteca Digital Brasileira. Correio Paulistano (n.20679): 7. 25 de janeiro de 1921. Consultado em 5 de novembro de 2023 
  13. Benedito, Mouzar. «Postes Ilustres». Revista do Brasil. Consultado em 22 de novembro de 2009 
  14. «As histórias e os tesouros dos cemitérios de São Paulo». Prefeitura da Cidade de São Paulo. Consultado em 22 de novembro de 2009 
  15. «Corpo da atriz Márcia Real é enterrado em São Paulo». G1. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  16. Marques, Fabrício. «Corpos venerados». Revista Época. Consultado em 22 de novembro de 2009 [ligação inativa] 
  17. Martins, José de Souza. «O 'Ultimo Adeus', de Alfredo Oliani.» (DOC). O Estado de S. Paulo - Reproduzido por CemiterioSP. Consultado em 22 de novembro de 2009 
  18. «Emendabili, Galileo». Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Consultado em 22 de novembro de 2009 
  • Camargo, Luís Soares de. As origens do Cemitério da Consolação. Em Cartaz - Guia da Secretaria Municipal de Cultural. São Paulo, nº. 17, pp. 74–75, setembro de 2008.
  • Vários autores (2005). Bravo! Guia de Cultura. São Paulo. São Paulo: Abril. pp. 16–17 
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